Redizer Folclore

É sabido que o Folclore, como expressão espontânea de um povo, existe desde que há memória de vida humana. O estudo desta temática, como ciência, só aconteceu tardiamente, como refere Maria de Cáscia Nascimento no início do seu Livro “Para Entender Folclore, volume 3”. 

“Era uma vez um inglês, de nome William John Thoms. Conta-se que era arqueólogo. Talvez por força da sua especialização, era atento e interessado naquilo que na Inglaterra chamavam de Antiguidades Populares ou Literatura Oral. Tratava-se de contos, lendas, provérbios, adivinhas, mitos, adágios, canções, enfim, narrativas e dizeres de origem popular e transmitidos oralmente e mantidos pela memória”.1
Recontando as preocupações de Thoms no que dizia respeito ao registo do saber popular, Cáscia lembra que este estudioso percebeu a amplitude do Folclore a partir dos acontecimentos triviais e insignificante, mas profundos em elos, numa extensa cadeia, perdida no tempo.
Para afirmar esse universo de memórias, Antiguidades Populares ou Literatura Oral, Thoms escreveu uma carta, publicada a 22 de Agosto de 1846, no Jornal Londrino, The Atheneum, para apresentar uma palavra, de origem anglo- saxónica, Folk-Lore para designar “o saber tradicional do povo”.2
Assim, foi encontrado o termo Folk-Lore, que, aceite e divulgado em países de tradições ancestrais e, depois aportuguesado para Folclore, que progressivamente, se debruçava nos estudos relacionados com a vida, costumes e tradições do povo português, segundo os usos e costumes das várias Regiões.
“Apesar do estudo do Folclore ser relativamente recente, (…) é a cultura mais antiga da humanidade, mais velha do que a História, pois mesmo antes que a ciência histórica existisse, já os mitos, as lendas e o artesanato eram transmitidos através das gerações desde os tempos pré- históricos”.3
O Folclore não se limitou apenas à sabedoria popular, ao conhecimento adquirido pela experiência, mas apoiando-se em conceitos da Etnografia e Antropologia foi melhorando as suas técnicas e métodos de pesquisa, contribuindo deste modo, para um melhor conhecimento da sociedade.
Recordamos as exortações do grande estudioso e amigo, Prof. Tomás Ribas, então, Director da Divisão de Folclore e Etnografia do Inatel Português, através da escrita e da linguagem, Conferências, Seminários e Congressos, em que tivemos o privilégio de participar. Frequentemente ouvimo-lo argumentar que, Folclore é a ciência do saber popular, fundamentada em vivências, transmitidas de geração em geração, de modo implícito, silencioso e invisível.
Actualmente, há uma ideia, mais ou menos generalizada, de que no Folclore assenta em quatro pilares fundamentais: a antiguidade, também chamada tradição, a persistência, a oralidade e o anonimato. E, que o implícito, o silencioso e o invisível, são tão importantes como as grandes manifestações de festas, romarias e outras.
Sem nos apercebermos, o Folclore acompanha a nossa existência e influencia a nossa vida de crianças, jovens, adultos ou idosos. Isto é reconhecido na nossa maneira de sentir, agir e reagir. Somos produto da família e do meio em fomos criados, sem excluir as influências exteriores que acrescentando e inovando a cultura tradicional, dão dinamismo ao Folclore.
Aos grupos de Folclore, auguramos que não limitem o Folclore às exibições exteriores, mas orgulhosos da cultura de seus avós, estudem, pesquisem, perseverem e divulguem esse rico Património.

1 – FRADE, Cáscia, “Folclore/Cáscia” 2ª Ed – São Paulo: Global, 1997, p. 9.
2 – IBIDEM.
3 – MEGALE, Nilza B., “Folclore Brasileiro”, Ed Vozes, Petrópolis, 1999, p. 12.

Texto publicado no Boletim informativo da AFERAM, Novembro 2006

teresinhasantos

Teresinha Santos – Foi Presidente da Assembleia Geral da AFERAM e Presidente da Casa do Povo da Ponta do Sol. Durante anos trabalhou em prol do folclore madeirense através dos Serviços de Extensão Rural / Serviços de Desenvolvimento Rural. Apoiou a criação de vários grupos, e coordenou o Festival de Folclore regional “48 horas a bailar” e a revista “Folclore”.