“A Festa” – Natal Madeirense

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No natal madeirense respira-se tradição, etnografia e folclore. O mês de Dezembro é muito acarinhado e festejado pelos madeirenses. São montados presépios em quase todas as freguesias da ilha e as ruas são iluminadas. A «Festa» reparte-se em vários momentos religiosos e culturais:

Missas do Parto – do dia 16 a 24 de Dezembro.
Novenas a Maria, missas celebradas de madrugada, por volta da seis horas, e que têm por tradição preparar os fiéis para o Nascimento de Jesus. Nestas missas destacam-se cânticos específicos entoados:
“ Virgem do Parto, oh Maria
 Senhora da Conceição
Dai-nos as festas felizes
A paz e salvação”
O convívio prolonga-se nos adros das igrejas ao som dos instrumentos tradicionais e com as iguarias da festa, cacau, canja, licores, aguardentes, broas e bolos.

A Morte do Porco
A tradição matar o porco com todo o seu ritual conhecido pela «Função do Porco», está-se a perder. No dia da primeira «Missa do Parto» a vizinhança e familiares juntavam-se para ver o animal. O porco depois de “picado” era todo aproveitado e partilhado pelos mais chegados, os que ajudaram na matança, o senhor vigário e o médico da freguesia.

Noite do Mercado – Dia 23 de dezembro
Na noite do dia 23 de dezembro, os madeirenses deslocam-se ao mercado para efetuar as últimas compras de Natal, as verduras, as flores, as frutas e legumes. Este ritual tem-se ampliado às ruas circundantes com novos postos de vendas e novos sabores. Os grupos musicais oficiais e anónimos ajudam a manter o ambiente da “festa” até ao amanhecer.
Em várias freguesias da Madeira faz-se também a noite do mercado.

Noite do pão – Dia 23 de dezembro
“No Caniçal e Paul do Mar, a noite de 23 para 24 de Dezembro é chamada a Noite do Pão, por nela todos cozerem o pão da Festa. Amassa-se e coze-se o Pão, durante toda a noite, porque não há fornos em todas as casas. Ninguém dorme. Grupos de rapazes e raparigas, dando largas ao coração, percorrem as casas, tocando e trovando”*

Noite de natal
O ponto alto do Natal era a Missa do Galo, com a anunciação do Anjo e romagens, ou entrada dos pastores, em que levavam oferendas ao menino e cantavam:
“Da serra veio um pastor 
À minha porta bateu,
Trouxe uma carta que diz 
O Deus menino nasceu”

Passagem de ano – Dia 31 de dezembro
A passagem de ano na Madeira é marcada pelo espetáculo de fogo-de-artifício no anfiteatro do Funchal, prática realizada desde o início do século XX. São cerca de oito minutos de luz e cor, que já foram reconhecidos pelo Livro de Recordes do Guiness, como “O maior espetáculo de fogo-de-artifício do Mundo”.

Oitavas
Os dias seguintes ao Dia de Natal, são designados por oitavas do Natal. Na primeira oitava, 26 de Dezembro, dia para ficar em família, em algumas localidades, apareciam “os mascarados” que batendo de porta em porta, iam provando os doces e licores caseiros. Na segunda e terceira oitava visitava-se a família alargada, os padrinhos e amigos, mantendo o espirito da Festa.

Reis – Dia 5 de janeiro
De 5 para 6 de Janeiro é tradição de visitar as casas para ver as lapinhas e provar as iguarias próprias do natal. O cantar do Reis era entoado a noite inteira de porta em porta:“E nós bem sabíamos
E vós bem sabeis
Que no dia de hoje 
Se cantava os Reis”

Santo Amaro – 15 de Janeiro
Festa de Natal na Madeira termina com a «limpeza dos armários», especialmente na freguesia de Santa Cruz.

* FERREIRA, Padre Manuel Juvenal Pita (2010). O Natal na Madeira: Estudo Folclórico. 2.ª Edição (Reimpressão). Secretaria Regional de Educação e Cultura. Direção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal.

Ver mais em:

Natal madeirense – Nelson Veríssimo 

O Natal madeirense: as oitavas – José Lemos Silva

Dossier temático sobre o Natal – ABM-Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira